Novo presidente da Abramet pretende investir na qualificação de especialistas e na busca do fortalecimento das áreas de atuação da medicina de tráfego

Por ABRAMET em 14/01/2020

Ao conquistar um sonho antes do que esperava, Antonio Edson Souza Meira Júnior não esconde o entusiasmo, nem o sentimento de responsabilidade por assumir a presidência da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Aos 36 anos de idade, tomou posse em 11 de janeiro (sábado), com a determinação de produzir avanços no comando da entidade nacional da especialidade e dar contribuição efetiva para o fortalecimento e expansão da medicina do tráfego no Brasil. “Eu estou muito honrado e feliz. Era um sonho para o futuro. Não esperava chegar aqui agora, mas estou motivado com a tarefa”, diz.  

 

Novo líder de uma comunidade com mais de 12 mil médicos em atividade, ele declara orgulho pela especialidade que escolheu e já definiu a agenda estratégica da sua gestão. Nos seus planos, estão a criação do departamento de saúde mental da Abramet, o fortalecimento de áreas técnicas para apoiar a expansão da atuação do médico de tráfego e o desenvolvimento de ações para aumentar a base de associados da entidade e fidelizá-los.

 

Antonio Meira também pretende dar prosseguimento ao esforço institucional que a Abramet vem fazendo para influenciar o debate em torno das mudanças no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que deve ser retomado pela Câmara dos Deputados a partir de fevereiro. Além disso, o novo presidente quer fortalecer o papel da Abramet na defesa da medicina de qualidade, representando e dando assistência aos médicos de tráfego, caminhando de mãos dadas com a Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e sociedades de especialidades.

 

Casado com Elaine e pai de Enzo, o médico de tráfego nascido em Jequié, interior da Bahia, diz estar aberto para uma nova jornada de aprendizado e partilha: “eu gosto muito de aprender e depois transmitir o conhecimento. Tenho certeza de que terei apoio da minha diretoria e dos nossos ex-presidentes para fortalecer ainda mais a Abramet e continuar na batalha pela preservação da vida no trânsito brasileiro”.

 

Na véspera de sua posse, concedeu a entrevista a seguir, onde detalha um pouco mais o trabalho que pretende realizar no biênio 2020-2021.

 

Como o senhor avalia o momento atual da medicina de tráfego no Brasil?

AMJr - A medicina de tráfego atualmente é considerada a 17ª maior especialidade entre as 55 reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina. É uma especialidade que tem importância muito grande, pois se relaciona com vários outros campos da medicina. Estamos passando por um momento muito delicado, por causa desse projeto enviado pelo governo, com alterações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o que pode aumentar a morbimortalidade no trânsito. Uma das atividades do médico de tráfego é atuar na habilitação dos condutores e candidatos a condutores de veículos automotores. A habilitação não é um direito no país, é uma concessão dada pelo estado e exige o cumprimento de algumas etapas. A primeira delas é passar por exame de aptidão física e mental realizado pelo médico de tráfego. Essa exigência está na lei (CTB) e existe uma resolução do Contran dizendo que o médico de tráfego é quem deve fazê-lo. Além disso, com as alterações propostas, estão ampliando a validade da CNH, que está atrelada a validade do exame. Como disse, é um momento delicado. Todas as especialidades médicas passam por uma fase conturbada, em função do aumento indiscriminado do número de faculdades e de médicos “malformados”, mas para a medicina de tráfego, outro grande problema é a mudança do Código de Trânsito, que interfere no seu principal campo de atuação.

 

Desse cenário descrito, o senhor vê sinais de oportunidades para a especialidade?  

AMJr - Sim, com certeza. Ao mesmo tempo, eu vislumbro um momento importante para o médico de tráfego. Houve uma união da categoria e um alerta para esses profissionais para que melhorem cada vez mais sua atuação. E há a oportunidade de fortalecer a medicina de tráfego preventiva, através da melhor qualificação do exame de aptidão física e mental das pessoas que querem se habilitar, mas também existe uma grande oportunidade para abrir novos horizontes. Precisamos entender que o médico de tráfego pode atuar não apenas como credenciado do Detran para examinar e habilitar uma pessoa para conduzir veículo automotor. Pode também atuar na avaliação da aptidão física e mental de tripulantes de uma aeronave, por exemplo. Também podemos atuar na valoração do dano corporal de vítimas de acidentes de trânsito. Ainda existem os terrenos do atendimento pré-hospitalar, do resgate e do transporte de vítimas de acidentes de trânsito. Como diz nosso diretor Científico, Dr. Flávio Adura, podemos “salvar vidas no asfalto”. Um dos nossos principais objetivos é evitar o acidente, mas quando não conseguimos, podemos atuar mitigando o sofrimento e as consequências dessas tragédias. Temos diversas outras áreas possíveis de atuação para explorar, não ficando presos apenas ao exame de aptidão físico e mental para condutores de veículos terrestres.

 

Que desafios estão colocados para o médico especialista?

AMJr - Penso que o mais importante deles é abrir novos horizontes e prosseguir no estímulo à capacitação e qualificação continuadas. Existem segmentos importantes em que nossa atuação pode ser fortalecida, como a medicina do viajante, medicina de tráfego aeroespacial, o transporte aeromédico, o resgate de vítimas de acidentes e a medicina de tráfego securitária. Vamos caminhar também nessa direção.

 

A sociedade brasileira ainda não tem clareza quanto à atuação do médico de tráfego e sua importância. Como você avalia a inserção da especialidade?

AMJr - Houve época em que o médico de tráfego tinha reservas para declarar sua especialidade. Nos últimos anos, percebemos uma mudança de comportamento e precisamos continuar mostrando a importância dessa especialidade. Todo deslocamento humano, seja terrestre, aquaviário, aéreo, ferroviário, tem relação conosco. Se tem deslocamento do ser humano tem a presença da medicina de tráfego. Nós temos, cada vez mais, de demonstrar orgulho de sermos médicos de tráfego e estarmos conscientes do papel que desempenhamos, ajudando a reduzir o número de mortes e sequelas. A sociedade tem de saber e entender, e nós devemos explicar, que a segunda causa de morte não natural no país é o acidente de trânsito. Em oito estados, o número de mortes no trânsito supera o de homicídios. Graças à atuação do médico de tráfego se consegue reduzir o número de mortes e de sequelas. Muitos sofrem acidente e não morrem, mas ficam com deficiências. Uma das atuações mais louváveis da medicina de tráfego é poder habilitar uma pessoa com deficiência. Importante papel na inclusão social das vítimas de tragédias no trânsito. Essa é nossa missão.  

 

Que ações sua gestão planeja para divulgar a especialidade?

AMJr - Precisamos trabalhar junto ao médico de tráfego para aumentar e fidelizar nossos sócios. Somos uma comunidade de aproximadamente oito mil médicos especialistas e mais de 12 mil atuando na especialidade. Faremos uma campanha para trazer mais sócios e outra com foco externo, para que a população saiba qual a importância do médico de tráfego. A Abramet tem 39 anos de atuação, um nome forte e credibilidade no campo científico. Já é referência para a mídia e contribuiu bastante com subsídios técnicos-científicos para elaboração de Leis, a exemplo da “Lei Seca” e Lei das Cadeirinhas”. Vamos fortalecer isso.

 

Nesse contexto, qual a agenda estratégica da nova diretoria da Abramet e seus principais objetivos?

AMJr - Inicialmente vamos focar no PL (nº 3267/2019), que já sofreu alterações, tem um substitutivo e pode ser apresentado na Câmara a partir de fevereiro. Queremos focar na sua aprovação, que depois segue para o Senado. Isso é importante para promoção da saúde e prevenção de acidentes no trânsito. Também vamos trabalhar para zelar pelo nível ético, eficiência técnica, sentido social e aperfeiçoamento da medicina de tráfego.

 

O que o médico de tráfego pode esperar da nova gestão?

AMJr – Tenho extremo orgulho da minha especialidade, que entendo ser de extrema importância para o país. Essa minha paixão será traduzida na forma de trabalho, empenho, compromisso e ação ética para valorizar nossos especialistas e defender seus interesses e os da população. Nessa cruzada, temos um time de diretores de grande capacidade e uma equipe de funcionários também comprometida. Juntos, temos como desafio primeiro fortalecer a defesa da especialidade, sempre em busca de, cada vez mais, qualificar o profissional. O médico precisa ser um especialista bem treinado e vamos buscar melhorias, oferecer benefícios para o sócio. Também queremos manter à disposição, dentro de nossas possibilidades, apoio jurídico, científico e defesa profissional. Vamos mostrar cada vez mais ao médico a importância disso e como a Abramet vem batalhando pelo especialista ao longo de quase 40 anos.


Dr. Antonio Meira Jr. - Presidente da ABRAMET e Dr. Lincoln Lopes Ferreira - Presidente da AMB.