Um sinistro de trânsito consternou os moradores da cidade de Brasília na quarta-feira (06), e reacendeu o alerta para a necessidade de cuidado preventivo com a saúde do condutor. Um carro de passeio bateu em um ponto de ônibus próximo à Rodoviária do Plano Piloto, levando uma pessoa a óbito e deixando outras três feridas. A suspeita é que o motorista tenha sofrido algum distúrbio, que será aferido por perícia durante a investigação. O caso chamou a atenção da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), que defende rigor na avaliação de candidatos a condutor e um cuidado maior da população com a saúde.
“Nós nos solidarizamos com as famílias das vítimas dessa tragédia, que poderia ter sido evitada”, afirma Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet. Já o diretor científico da entidade, Flavio Adura, avalia que, casos como esse, em que o motorista informa ter sofrido mal súbito, infelizmente, acontecem com frequência maior que o desejável e confirmam a influência da condição de saúde sobre a capacidade de dirigir. “Para assumir a condução de um veículo automotor é necessário estar em plenas condições de saúde”, acrescenta.
Dados da entidade indicam que doenças orgânicas do motorista são responsáveis por 12% dos sinistros fatais. As principais doenças são as cardiopatias, crises convulsivas, distúrbios psiquiátricos, demências, doenças do sono e hipoglicemia (provocada pelo uso de insulina), respectivamente.
A Abramet, por intermédio do seu departamento científico, preparou um conjunto de esclarecimentos para contribuir com a prevenção de sinistros. É uma forma de mostrar para a população onde estão os riscos e como evitá-los:
O uso de remédios controlados e a habilitação para dirigir:
O uso de drogas lícitas, medicinais como os ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos, barbitúricos, e anfetaminas não impedem, legalmente, a direção veicular, mas interferem no ato de dirigir, em maior ou menor intensidade, na dependência de vários fatores, inclusive da susceptibilidade de cada indivíduo. Cabe frisar que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), estabelece, na redação do artigo 165, que “dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência” é infração gravíssima, que penaliza com multa, suspensão do direito de dirigir por 12 meses, recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo.
O uso de medicação e a redução de riscos ao volante:
São frequentes as reações adversas a medicamentos, caracterizadas por alteração da visão, sonolência, sedação, entre outras, que causam prejuízos e insegurança para a direção veicular e que são mais sensíveis nos motoristas idosos. Essas medicações devem ser evitadas pelos motoristas. Atenta a isso, a ABRAMET solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a adoção de um símbolo de direção perigosa na embalagem de tais medicamentos, sinalizando o risco para o condutor em tratamento (foto ao lado).
As condições de saúde que impedem habilitação:
Há condições que impedem a habilitação, temporariamente ou de forma definitiva e dependendo da categoria pretendida (A, B, C, D e E). Uma pessoa que sofra de epilepsia, por exemplo, não pode obter categoria A (motocicleta). Condições de inaptidão poderão resultar de doenças oftalmológicas, cardiológicas, neurológicas e ortopédicas principalmente. Há condições que a pessoa é obrigada a conduzir um veículo adaptado.
A indicação de enfermidade na Carteira Nacional de Habilitação (CNH):
Condutores que usam óculos podem receber uma indicação na carteira, dependendo do grau e do tipo de enfermidade ocular. Entretanto, não há observação prevista para condutores que fazem uso de medicamentos. Nesses casos, a melhor forma de prevenir sinistros de trânsito é atender a orientação oferecida pelo médico prescritor e o médico do tráfego por ocasião do exame de aptidão física e mental. O médico do tráfego está preparado para informar ao condutor ou candidato a condutor os efeitos colaterais dos medicamentos prejudiciais à capacidade de dirigir veículos (sonolência, tonturas, turvação da visão, aumento do tempo de reação, lipotímias, efeitos extrapiramidais, entre outros).